Simbologia das histórias infantis
Boas histórias para crianças não são escritas à toa. Elas são repletas de simbologia, valores sociais ou humanos e de estruturas que fazem parte do nosso inconsciente.
Algumas interpretações:
“A Branca de Neve e os Sete Anões”
A Branca de Neve nada mais é do que o nosso aspecto puro e essencial, ingênuo e isento de malícia ou interesses. Os sete anões são desdobramentos da nossa personalidade, ou seja,mais ou menos presente nas nossas características pessoais. Cada um deles representa facetas de como lidamos com essa realidade: de forma mau humorada (Zangado), o hipocondríaco (Atchim), o emocional (Dengoso),o intelectual (Mestre) entre outros. O príncipe é a busca do ser humano em encontrar a perfeição, o seu outro lado, o que nos completa. A madrasta ou bruxa representam o nosso lado sombrio, os boicotes que tramamos para nós mesmos, para que deixemos de lado a Branca de Neve do nosso ser. A madrasta também representa a vaidade, a competição a qualquer preço. O espelho falante é a nossa consciência, que reflete o que somos, os nossos pensamentos e desejos. A maçã representa as nossas tentações, aquilo que nos identificamos e com isso perdemos a consciência, a conexão com a vida –a Branca de Neve desmaia e só desperta à vida quando recebe o beijo de seu amado.
“Os Três Porquinhos”
Cada porquinho tem uma personalidade. Os dois primeiros têm perfis semelhantes. Eles representam a preguiça e apontam as conseqüências de levarmos a vida dessa maneira – ficaram sem abrigo, proteção e foram engolidos pelo lobo. O terceiro porquinho era o mais comedido, dedicado e construiu a sua forte casa em alicerces de tijolos. Ele foi o único que trabalhou mais e que permaneceu com a sua casa. O lobo representa as ameaças da vida e a casa representa a nossa estrutura interna – como lidamos com o mundo, com os perigos, com a destruição das nossas estruturas internas – de forma preguiçosa e leviana. Aquele que se dedicou mais tempo em construir, em ter uma vida mais estruturada, que não se apressou para ir brincar, como os outro dois porquinhos, não sofreu conseqüências dos assopros do lobo, além de tê-lo dominado de maneira inteligente e bem humorada. É assim que o terceiro porquinho se relaciona com a vida. Ele sabe se defender e acolher os outros. O lobo também representa as tendências e os valores sociais. Dependendo do perfil do “porquinho” os ventos se encarregam de levar seus sonhos e verdades.
“Pinóquio”
Particularmente acho a história de Pinóquio maravilhosa e repleta de significados. O Gepeto representa a bondade do ser humano, a simplicidade e a humildade. Ele tem o coração puro e se coloca à serviço da vida. Ele esculpiu o boneco com as próprias mãos, como se ele mesmo estivesse se esculpindo, numa “versão melhorada” e mais sofisticada de si, até então.
Pinóquio representa a criança, o potencial ser humano. A criança está em contínuo processo de se tornar humana. Assim é Pinóquio. Ele ainda é feito de madeira, e não de carne e ossos; é ingênuo, inconstante e acredita em tudo o que dizem, ele é totalmente desprovido de discernimento e maturidade. Fígaro, o gato, e Cléo, o peixe, são, em meu ponte de vista, uma continuidade de Gepeto. Eles representam o aspecto “animal” do velhinho, mas algo muito sutil e sereno. Mesmo com a rabugice e impaciência de Fígaro, o próprio Gepeto ri de si mesmo, reconhecendo suas características. A peixinho Cléo é doce, meiga e fiel ao seu dono, característica que incluem facetas do pai de Pinóquio.
A Fada Madrinha ou Fada Azul significa o mundo mágico, da realização dos sonhos e das oportunidades que estão ao nosso alcance e que dependem, de uma certa forma, de como conduzimos a nossa vida. Assim aconteceu com Pinóquio. Ele só se tornou um ser humano de verdade quando passou a adquirir atitudes nobres, a valorizar o outro e a deixar de se envolver com a realidade de acordo com as opiniões dos outros e não com as suas. O Grilo Falante é, como o próprio filme o intitula como a consciência de Pinóquio. Ele, no início, é ainda um reflexo daquilo que o boneco de madeira representava, pouco atento e displicente frente à realidade. Conforme Pinóquio vai passando por situações e experiências, o Grilo Falante também vai se transformando e adquirindo mais qualidade de consciência, até receber o grande prêmio no final da história – a medalha de ouro.
Os personagens como a raposa, chamada ironicamente de João Honesto, o gato Gideão, Stromboli, o dono do circo, o cocheiro e o menino que acompanha Pinóquio na Ilha dos Prazeres são representações da realidade que nos tenta o tempo todo, que nos testa a cada esquina para ver se estamos realmente em busca de uma consciência maior, de nos tornarmos reais seres humanos ou de simplesmente nos entregarmos aos prazeres da nossa vida ordinária sem finalidade alguma.
Faz parte da vida do ser humano buscar prazer e diversão, não há nada de errado nisso, mas o que mais podemos realizar, viver, conhecer, aprender e ensinar? E Pinóquio, depois de muitas ilusões e desilusões resgatou o seu pai da barriga da baleia, do mar de inconsciência, trazendo de volta a vida de Gepeto e conseqüentemente a sua, tornando-se um menino de verdade – um Real Ser Humano.
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